Muitas pessoas quando escutam a palavra Blockchain naturalmente pensam em moedas digitais, conhecidas como criptomoedas (criptos). Investir em ativos como Bitcoin, Ether, Cardano, entre outros, tornou-se sinônimo de investir em blockchain. Grande parte dessa associação está relacionada com a criação da tecnologia, a qual se tornou conhecida com a partir do advento do Bitcoin. Em 2008, uma publicação intitulada de A Peer-to-Peer Eletronic Cash System foi publicada por Satoshi Nakamoto --- refere-se ao pseudônimo ao qual o artigo foi publicado, até esse momento 2024, ainda não existe confirmação de quem é/são Satoshi Nakamoto --- definindo um sistema computational distribuído que permite realizar pagamentos de uma pessoa diretamente para outra, sem que haja intermediação de um instituição financeira.
Apesar dessa tecnologia ter iniciado para esse tipo de financeiros, ela tem um potencial de fazer muito mais. Entender qual é a base da tecnologia é essencial para compreender como ela pode permitir a utilização para muitos outros propósitos. A seguir, vamos tentar descrever um pouco do funcionamento da tecnologia e citar alguns outros exemplo de aplicação que atualmente estão sendo estudados.
O que é a blockchain?
Em resumo, a blockchain pode ser definida como um livro-razão distribuído. Alguns de vocês podem dizer: Ótimo, agora eu já sei tudo! Mas a não ser que você trabalhe com ciências contábeis, o conceito de livro-razão é desconhecido pela maioria das pessoas, inclusive pesquisadores da área de tecnologia. Então vamos entender um pouco mais oque é isso.
Entendendo Livro-Razão(Ledger):
Segundo o dicionário Oxford, um livro-razão (ledger), é um "livro que fica permanentemente em algum lugar. Comércio. O livro principal de um 'conjunto de livros' normalmente empregado para registrar mercadorias". Já o dicionário de Cambridge define como "um livro no qual as coisas são registradas regularmente, especialmente atividades comerciais e dinheiro recebido ou pago".
Em contabilidade esse conceito é bem conhecido, um livro-razão (muita vezes chamado de livro contábil) é um conjunto registros de todas as movimentações realizadas em um período em ordem cronológica.
Fonte: O que é um livro-razão, qual a sua finalidade
O principal conceito por trás do livro-razão é que a partir do momento que uma movimentação é registrada em um livro é registrado, ela é considerada verdadeira e não pode ser alterada sem gerar um novo registro, ou seja, é possível verificar o estado real da movimentação ao longo do tempo.
De maneira análoga um instituição financeira, como por exemplo um banco, faz o mesmo com os registros em uma conta corrente, poupança, etc. Vamos pensar da seguinte forma, suponha que uma pessoa chamada Beto possua U$100,00 em sua conta corrente, quando beto transfere U$60,00 para Alice, seu saldo final se torna U$40,00. A partir do momento que a transferência foi registrada, caso Beto tente realizar uma transferência de U$90,00 para outra pessoa essa movimentação deve ser recusada. Esse é um exemplo do papel que livro-razão exerce, garantir que a realidade seja refletida em documentos. Da mesma forma os sistemas cartorários fazem os registros das transações em livros, como por exemplo: Livro de Protocolo, Livro de Matrícula, Livro de Registro Auxiliar, Livro de Indicar Real, Livro de Indicador Pessoal, etc.; Conceitualmente, eles tem o mesmo propósito, registrar movimentação de ativos cronologicamente.
Esse conceito é o mesmo quando falamos de meios físicos ou digitais. Ou seja, o propósitos de ambos é manter que as informações são confiáveis e não sofreram adulterações até o momento do registro. Mas por que o blockchain é um livro-razão distribuído. Este é o maior benefício da blockchain, para isso precisamos entender um pouco mais do conceito de sistemas distribuídos.
Entendendo Sistemas Distribuídos com Livro-Razão:
Sistemas distribuídos são um conceito antigo, eles se tornaram possíveis com a criação das redes de computadores e amplificados com a criação da Internet. Segundo Tanenbaum, um sistema distribuído é coleção de computadores independentes que aparecem para os usuários do sistema como um único computador (Tanenbaum e Van Steen, 2002). Ou seja, quando nos referimos a um livro-razão distribuído nos referenciamos aos conjuntos de informações registrada que são gravadas em múltiplos computadores em uma rede, mas que os usuários veem como um único livro-razão.
O principal aspecto quando nos referimos a livros-razão distribuídos é uma ferramenta chamada de mecanismo de consenso. O consenso consiste em uma maneira de garantir que a informação gravada no livro-razão foi verificada por um grupo de computadores (membros/agentes da rede blockchain). Ou seja, apenas uma gravação pode ser realizada e considerada verdadeira em uma janela de tempo. Voltando ao nosso exemplo anterior, imagine que Beto queira fazer uma transferência maliciosa, que ele tentou executar a transferência para Alice 2x antes que essa seja registrada. No caso de instituição financeira, ela não permitirá, pois dirá que o saldo dele não permite. Mas em casos que não temos um centralizador, como a blockchain, não temos essa entidade para verificar. O mecanismo de consenso vem para substituir essa "fonte de verdade", quando os participantes do consenso identificam uma incoerência na movimentação essa transação é negada.
Um disclaimer importante é que existem muitos mecanismos de consenso, alguns com maior confiabilidade e outros com validações fracas. Não se pode definir qual é melhor ou pior, dependerá do caso de uso e da aplicação ao qual será aplicado.
Compreendendo esses conceitos podemos voltar a falar de blockchain. Agora podemos resumir a blockchain como uma fonte de dados na qual vários membros/agentes da rede verificaram a informação em um dado momento de tempo, garantem sua veracidade e a verdade registrada não será alterada.
Por que blockchain?
A tecnologia blockchain permite registrar muito mais que simplesmente moedas digitais. Como o exemplo do sistema cartorário, podemos utilizar a mesma tecnologia para registra outros ativos como escritura de imóveis, contratos de transporte, contratos de compra e venda etc. Isso é o possível através da inclusão dos contratos inteligentes na blockchain.
Os contratos inteligentes são um conceito muito antigo, definidos por Nick Szabo em 1994, o qual só se tornou popular quando um dos criadores da Ethereum (Vitalik Buterin) sugeriu sua utilização com blockchain.
Essa evolução da tecnologia permitiu utilizar muitos outros ativos, como por exemplo, dados de assistência médica, energia, educacionais, ambientais, administrativos e muitos outros. Vamos ver alguns exemplos:
- Em 2020 a Hyperledger Fabric, uma solução blockchain, apresentou um conjunto de soluções para a cadeia de suprimentos, entre elas o DLT Freight (Hyperledger powered Supply Chain solutions in action) uma solução blockchain para a cadeia de suprimentos. O sistema rastreia entregas, verifica transações e automatiza faturas em tempo real em toda a rede de até 70 transportadoras diferentes na cadeia de suprimentos do Walmart.
- Ainda em 2020, foram apresentas as soluções para Educação (Hyperledger powered Education solutions in action) como Byacco, DoDream, PwC Smart Credential e Verified.Me.
- Similaramente em 2021, foram apresentas as soluções para Heathcare (assistência médica) (Hyperledger powered Healthcare solutions in action) como Aruba Heath App, MediConCen e XATP.
Esses conceitos e exemplos demonstram como a tecnologia blockchain ainda é subestimada, mas que vem tomando espaço e tende evoluir cada vez mais. Blockchain é uma tecnologia que se tornará complementar aos bancos de dados tradicionais, permitindo armazenar informações em situações que precisamos realizar a verificação dessas informações por mais de um agente, assim como, verificá-las dentro de um contexto histórico.
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